Abordagem dos Espaços Vazios

metodologia oficina criativa espacos vazios Quando tentamos desenhar com o lado esquerdo do cérebro, o resultado geralmente, mostra um certo desequilíbrio, fruto de uma focalização parcial da atenção dedicada ao desenhar a composição de objetos ou pessoas. Desequilíbrio este que se manifesta pelo descaso em relação aos espaços negativos que exigem o mesmo grau de atenção que requerem as formas positivas. E por que isso é assim? Vejamos:

O lado esquerdo considera os espaços vazios como se fossem apenas o fundo do desenho. Por isso, as pessoas ou recheiam, ou simplesmente o esquecem, como se este não tivesse nenhuma participação no desenho que está surgindo. Mas, devemos nos lembrar que todas as formas cheias e vazias pertencem a um mesmo espaço, como se fossem um quebra-cabeças.

Não existe uma que seja mais importante do que as outras; todas têm a mesma importância e por isso mesmo devem ser respeitadas, uma vez que colaboram para a existência da unidade, assim como o todo está em cada uma de suas minúsculas partes. Por exemplo, uma pequena partícula de matéria contém todas as leis que regem o cosmo; da mesma maneira, cada parte, individualmente, colabora para formar o todo; assim como uma gota d'água do oceano é apenas uma minúscula partícula diante do imenso oceano formado por infinitas e incontáveis milhares de outras gotas.

Para compreender melhor esses conceitos, vamos recorrer aos primeiros exercícios. Veja a imagem da arara apresentada a seguir e observe como a unidade está formada por formas cheias e vazias. As formas cheias, também chamadas de positivas ou concretas, são mais facilmente identificadas pelo hemisfério esquerdo, pois, por meio dele, você as codifica dando a elas um nome, por exemplo: "arara". Os nomes dados às coisas, portanto, estão ligados à linguagem oral.

As formas vazias ou abstratas, também chamadas de negativas, não possuem nomes, conseqüentemente, o lado esquerdo as rejeita, porque ele interpreta essas formas como se fossem "nada". O lado direito tem, assim, a chance de se manifestar, já que esse lado é abstrato e considera o vazio como o todo a partir do qual tudo se cria.A partir da imagem seguinte podemos observar a síntese: a unidade é o resultado da união de cheios e vazios.

Diante do exposto, concluímos que os cheios e os vazios são uma coisa só, pois na união das duas formas existe sempre uma aresta que é comum aos dois lados. Se continuarmos a analisar a questão, é possível, ainda, verificar que, ao falar das formas cheias e vazias, estamos qualificando a natureza da forma que só se diferencia uma da outra porque as formas atraídas pelo hemisfério esquerdo possuem nome enquanto as outras são consideradas abstratas, portanto, sem nome. Embora isso já tenha sido mencionado, é recomendável insistir na repetição por se tratar de um conceito relativamente novo e, por isso, mais difícil de ser lembrado. Por esta razão ainda voltaremos a falar do assunto com diferentes abordagens.

Aspectos psico filosóficos: do conceito cheios e vazios

cientista americano ken wilberO cientista americano Ken Wilber analisa profundamente esse assunto, que sintetizo a seguir. Existem diferentes maneiras de perceber a realidade e à cada percepção ou modo de percepção corresponde um nível de consciência. Assim, quando percebemos no nosso nível, a relação sujeito-objeto, estabelecemos uma dualidade. Esta dualidade se dá em um intervalo de tempo entre o sujeito que percebe e o objeto que é percebido. Esse intervalo no espaço fica atrelado também ao conceito do tempo que transcorre ao acompanhar a distancia entre sujeito e objeto. A mente cria esta separação fictícia, nos afastando do momento presente e nos levando sempre ao passado ou ao futuro, de modo que nossa percepção vai se estreitando e empobrecendo cada vez mais. Observemos a seguinte representação:

circulo incompleto

Se perguntarmos sobre o que, você, leitor, observa ao olhar a imagem ao lado, a resposta mais óbvia será: um círculo. Porém, essa afirmação não é totalmente correta, uma vez que a resposta certa seria: um círculo numa folha branca. A unidade círculo-folha branca fica reprimida, pois a focalização rápida do hemisfério esquerdo, por estar intimamente ligada à linguagem oral, se apressa em classificar, afunilando, estreitando a realidade e sacrificando a porção da existência não percebida. Se analisarmos nossa percepção diária em torno de nossa realidade, veremos que ela exprime quase sempre uma dualidade não real, uma separação fictícia que nos leva a maior parte das vezes a concluir erradamente a respeito da existência, pois a percepção da separação é ilusória.

Quando a unidade não é reprimida, tudo é simultâneo, existe no momento presente, e o momento é presente porque carece de passado e de futuro. Carece de passado porque ao falarmos dele, só existe nas lembranças. E carece do futuro porque quando falamos de futuro, ele existe apenas nas expectativas. Definitivamente, só há o aqui e o agora; viver o presente é viver em unidade, ser um com a unidade, portanto, passado e futuro são ilusões e a única realidade é a realidade presente, que como sugere o significado da própria palavra trata-se de uma dádiva.

A vida é o momento. O agora representa a vida que convive com a morte de outras possibilidades que não estão sendo realizadas. É nesse sentido que se fala que a vida é a eterna dança da existência, vida e morte, construção e destruição simultâneas. Esta observação completa e holística não pode ser feita por nossa mente limitada canalizada pelo hemisfério esquerdo. É preciso gerar uma nova força que deve surgir do interior, capaz de observar a realidade tal qual ela é; um observador , que objetivamente perceba a unidade no todo. E ele, é o verdadeiro eu que, como diz Ken Wilber, "não conhece universo a distancia, conhece o universo por ser universo, sem o menor vestígio do espaço interveniente e o que é sem espaço tem que ser o infinito" Este é o espírito que deve guiar quem procura realizar esses exercícios. O ideal é que cada um desses exercícios seja um passinho adiante para tentar despertar dentro de nós esse eu que detém as chaves de nossa realização. Quando? Agora.

observador

Não é difícil deduzir, então, a importância de desenvolver em nosso mundo interior a existência do grande observador, pois só ele, com sua imensa abstração, num eterno presente simultâneo, está apto a observar as formas vazias sem nome e sem alteração emocional alguma.

Procurarei, agora, a maneira mais acertada para transferir a você, caro leitor, na prática os conceitos aos quais nos referimos anteriormente. E é claro que a maneira mais eficiente para conseguir êxito na tarefa a que me proponho a realizar se dará por meio do desenho. Durante um dos encontros realizados no Instituto para o Desenvolvimento Humano Integral( os quais recebem o nome de "trabalhos de pátio", por serem, em sua maior parte, vivências realizadas ao ar livre), tenho realizado atividades próprias do chamado "Núcleo da Mão Esquerda", parte de um conhecimento ensinado pelas antigas Escolas Iniciáticas do Meio Oriente, conforme já foi relatado. Durante os exercícios, fomos orientados a desenhar o que observávamos a partir das formas vazias, até chegarmos às formas cheias. Essa metodologia de observação nos induzia a perceber o conjunto, a unidade de toda a forma e, inclusive, as sombras, uma vez que estas também são formas

Quando conheci o método da Dra. Betty Edwards, já mencionado, veio a confirmação sobre a percepção do desenho e seu funcionamento. E, à medida que fui aumentando a minha capacidade de compreensão e adquirindo mais experiência, fiz a minha própria síntese . Convido você a desenhar e sentir o que estou explicando acima na terceira aula do módulo de desenho.

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